A nossa Visão

Acreditamos que quem atinge resultados e chega a campeão é quem leva a Columbofilia mais a sério. Mas, não é, necessariamente, quem mais prazer dela extrai. A columbofilia é bastante mais do que competir e ganhar. É ter gosto e alegria no contacto com os pombos e as pessoas, é diversão e amizade. O objetivo não é ser o maior columbófilo de sempre, mas sim o que mais se divertiu na prática deste desporto.

Faz parte da nossa diversão também vencer. Mas, a columbofilia não se esgota na competição.

Atingir o sucesso é um caminho árduo. Manter o sucesso ainda mais. Não é só possuir os melhores pombos e pombais… é também feito da “destreza com os utensílios da limpeza” que pouco se discute, mas que tem uma enorme influência na carga diária do trabalho de um columbófilo e também é parte integral do sucesso desportivo. Depois, temos ainda toda uma parte mais abstrata/intangível, que envolve a motivação, paciência, sensibilidade, intuição e empatia com os pombos. Saber quando estão em forma de forma a fazer as decisões corretas e transformar o trabalho em vitórias. Saber dosear o esforço dos voadores. Nunca esquecer também algo que nem sempre se fala e que é responsável por transformar pequenos columbófilos em campeões… um pouco de sorte… não só nas corridas, mas também na lotaria genética.

Perguntas frequentes ao Dr. David Barros Madeira

Sistema de voo?

Viuvez com machos e com fêmeas. No entanto, ao contrário da maioria das colónias em Portugal não utilizamos um derivado do Round-About System tão usado na Alemanha. Os machos são jogados numa variante da viuvez clássica com as fêmeas paradas. Sempre que tentámos experimentar métodos de voo com os dois sexos a serem jogados ao mesmo tempo observámos uma perda de rendimento dos machos. Portanto revertemos para o antigamente: viuvez clássica com ninhos abertos durante o dia e fechados à noite. Alimentação e voo coordenados e crescentes durante a semana acabando em 45 minutos de manhã e à tarde na véspera do encestamento, fêmeas mostradas aos machos, sem cópula, durante cinco a dez minutos nos dois primeiros concursos depois apenas esporadicamente ou a um pombo específico que nos pareça render mais assim. Fechar os pombos nos ninhos à noite porquê: para analisar o estado das fezes pela manhã. Dia do encestamento, alimentação ligeira e banho. Após o concurso os machos ficam com a sua fêmea cerca de uma hora.

As fêmeas são jogadas num pombal com duas volières laterais em poleiros e com um sistema que impede que venham ao chão. Entram comem e bebem no pombal central que tem 20 ninhos. Depois vão para as volières e aí ficam até serem soltas novamente. Cada macho que as espera foi acasalado com duas fêmeas diferentes no fim e no início da campanha e vinte machos dão para quarenta fêmeas.

Os pombos de ano são voados a poleiro, sem jogo ou stress. O primeiro ano não é para ganhar títulos, é para eliminar os estúpidos e selecionar os que vão para a equipa principal no ano seguinte.

Como gere os seus Reprodutores?

A boa forma dos reprodutores é tão importante como a dos voadores. A criação implica stress e esforço para os pombos tal como os concursos. E, os bons resultados da reprodução dependem diretamente da boa condição e da saúde dos criadores. Daí a nossa constante preocupação com as instalações entre outros. Fico às vezes doente quando vejo a forma como muitos columbófilos tratam os seus reprodutores, amontoando-os em pombais sem condições e positivamente tratando-os como a parte “de segunda” da colónia. Os nossos reprodutores são tratados com tanto ou mais cuidado e devoção que os nossos voadores.

O ano de reprodução é cuidadosamente preparado. Os casais são primeiro feitos no papel e depois eram discutidos com o meu pai, com decisão final envolvendo os dois, após por vezes, debate acalorado, agora envolvo o meu filho no debate. As fêmeas reprodutoras entram em dieta cerca de 3 semanas antes do acasalamento. A postura atrasa se as reprodutoras não estiverem com o peso ideal. É-lhes dada ração rica novamente só nos 3 últimos dias que antecedem o acasalamento. São administrados suplementos vitamínicos duas vezes por semana na semana que antecede a caça ao ninho e durante esta fase. Quando os casais têm ovos fazemos um tratamento para a trichomonas por via oral, com comprimidos. Porquê comprimidos? Por duas razões: Primeira, não devem ser administrados antitrichomonicidas aos pombos muito idosos por diminuírem a fertilidade e se forem dados na água não os podemos excluir do tratamento; segunda, se uma fêmea atrasar a postura, com o tratamento só vamos ainda complicar o problema e aumentar o atraso.

Durante a criação os pombos têm sempre grit, vitamineral e bloco salgado à disposição e que são renovados regularmente. O pombal é limpo todos os dias e os bebedouros são desinfetados todas as semanas tal como os dos voadores.

Reprodutor que se “vá abaixo” é separado e investigado para ver se tem algum problema sanitário e é tratado se for necessário. Nada é deixado ao acaso.

Consanguinidade ou cruzamentos?

Os dois são complementares. Digamos que os cruzamentos são o caminho até obter a excelência e a consanguinidade é a forma de a manter na colónia.

Preferimos habitualmente formas de consanguinidade afastadas, tio x sobrinha, avô x neta, primos-irmãos. Teoricamente a consanguinidade muito apertada provoca diminuição das prestações desportivas e destina-se mais à obtenção de reprodutores. Mas, temos tido resultados desportivos fora do vulgar com o acasalamento de meios-irmãos. A nossa “140” uma máquina de marcar (1º Distrital de Ponferrada entre muitos outros prémios) era filha de meios-irmãos.

Reprodutores novos ou velhos?

A idade de um macho reprodutor não tem grande importância. O nosso “Puskas” deu-nos uma anilha de ouro com 14 anos! O que por vezes se passa é que os machos muito idosos criam pior do que quando eram novos. Temos, portanto, o cuidado de só os deixar criar um borracho por criação, ou passamos sistematicamente os dois borrachos para debaixo de outro casal.

No que diz respeito às fêmeas o caso muda de figura. Preferimos reprodutoras jovens. Penso que com a idade há em muitos casos diminuição da qualidade da descendência por depauperamento físico. O processo de formação do ovo é complexo e exige muito da fêmea. Se ela não estiver em bom estado acredito que tal facto se repercuta na composição dos ovos. Na minha opinião quem quiser aproveitar uma reprodutora já idosa tem de preocupar-se bastante com mantê-la em boas condições de saúde e forma física.

Muda muito os casais?

Sou um grande partidário de dar várias fêmeas durante o ano aos melhores machos reprodutores. Alguns dos melhores machos chegam a receber até 5 pombas diferentes durante a época de criação. Por essa razão é que tenho sempre mais reprodutoras que reprodutores. Mesmo com material de altíssima qualidade, temos de ensaiar múltiplas combinações para procurar encontrar os melhores casais. Agora, quando tenho bons filhos de um casal tento explorá-lo ao máximo, e só depois de 4 ou 5 posturas com a fêmea com que já acertou o macho recebe outra.

Variar muito os casais tem grandes vantagens em termos de seleção porque permite identificar com rapidez os melhores reprodutores tanto machos como fêmeas. Se um macho não deu nada cruzado com três ou quatro fêmeas que dão bons filhos com outros reprodutores, teremos de começar a pensar que ele estará a mais e terá de ser eliminado, tenha ele custado muito ou pouco. O mesmo se aplica às fêmeas. A reprodução é um jogo de ensaio e erro. Quem elimina e corrige os erros mais depressa é quem mais progride.

A passagem pela Bélgica?

Os meus amigos gostam de brincar comigo dizendo que sou o mais belga dos columbófilos portugueses por andar sempre por lá. A culpa foi das relações de amizade que o meu pai criou, sobretudo com a família Colson e Roger Vereecke e do facto de a partir 14 anos me desterrar na Wallonie durante todo o mês de Agosto para melhorar o meu francês. A aprendizagem da língua rapidamente se tornou desculpa e os pombos a principal razão para passar pelo menos parte do verão na Pátria da Columbofilia. Durante essa estadia manuseava milhares de pombos de nomes conhecidos dos portugueses e de tantos outros de que a maioria nunca ouviu falar: Gerard e Michel Vanhee, Roger Coudou, Maurice Gyselinck-Cattrysse, Guy Vinois, Michel Descamps Van Hasten, Raoul Van Spitael, Roger Desplenter, Norbert Norman, Roger Florizoone, Pierre Ameye, Victor Fabry, Marc Roosens, Raoul Dubocage, Paul Gilmont, Henri Van Neste, Flor Engels, Maurice Casaert, Raymond Cobut, André Brouckaert, Germain Imbrecht, Yvvon Deneufbourg, Paul Tossens (que morava no fim do mundo), Willy Clerebaut, George Bolle, Roger Desmet-Mathys,  Ettienne Devos, Julien Vaneeno, Josef Vandenbroucke…

Ao longo dos anos fui seguindo a evolução da columbofilia belga e, porque não dizê-lo, a sua regressão. As minhas estadias eram sempre muito movimentadas com visitas sucessivas a todos os “grandes” do momento para ver e manipular, se possível, todos os melhores pombos desse ano.

Particularmente impressionantes para mim foram uma visita a André VanBruaene no ano anterior à sua última vitória de Barcelona, em que ainda pude manipular uma série de reprodutores, e mesmo o seu famoso “Electriek”, a equipa de voo e reprodução de Gaston Devooght em 1990 quando ganhou o campeonato geral e de fundo da federação belga e uma visita a Gommaire Verbruggen, no auge da sua glória: o “Kletskop” e os irmãos foram dos melhores pombos de meio-fundo que alguma vez tive em mãos. Na Holanda a colónia que mais me agradou foi a dos irmãos Kuypers de Neer em 1980. Voltei lá recentemente e, já não é o mesmo, aliás, os resultados desportivos também não.

 Ao longo do tempo foram-se cimentando conhecimentos e amizades e estabeleceram-se relações de confiança que permitiram mesmo começar a concorrer em sociedade com André, Hannes e Peter Gyselbrecht em finais de 2003. A sociedade durou 10 anos e só terminou por problemas dentro da família Gyselbrecht. A venda total em 2013 foi um sucesso e um final digno. Mal acabava a campanha em Portugal, logo estava eu a apanhar o avião para Bruxelas quase todos os fins de semana. O auge da campanha de fundo e grande fundo na Bélgica coincide com os meses de Julho e Agosto o que era perfeito. Conseguia reunir o melhor de dois mundos. Foi uma boa experiência.

Qual a sua opinião em relação à “teoria dos olhos” como Médico Oftalmologista?

Que me desculpem os aficionados, mas sou um cético. Gosto de ver olhos saudáveis, bem pigmentados, vivos, brilhantes, bem implantados e com pupilas pequenas, mas os olhos são um pormenor num todo. Não se avalia um automóvel só pelos faróis.

Em relação à teoria do olho, tal com aconteceu com os pedigrees, caiu-se no exagero. Se tudo o que se afirma fosse verdade, com todas as vantagens que o “Eye-Sign” confere os seus peritos arrasariam qualquer concorrência e ganhariam tudo. Ora não é isso que se verifica.

Em termos de teorias sou muito mais “alar” do que partidário da teoria dos olhos. De facto, tenho manuseado milhares de pombos e nunca vi nenhum voador extraordinário que não tivesse boas asas e farto-me de ver voadores e reprodutores fabulosos em que não descortino nada de significativo em termos dos chamados “sinais do olho”. Por exemplo o famoso “Wittenbuik” Vandenabeele tem um olho branco-claro, igual ao de tantos outros pombos da linha e em que não vi” virgulas”, “pontos”, linhas disto ou daquilo nem particularidades nos “círculos”. Mais, tivemos um filho direto do “Wittenbuik que era um excelente reprodutor e que foi liminarmente apontado como pombo a eliminar da nossa reprodução, por um” especialista” do olho inglês muito reputado, com livros escritos e farta audiência.

É claro que alguns “crentes” poderão dizer que o problema sou eu que não sei ver, mas podem acreditar que procurei ler sobre o assunto, comprei livros e cassetes vídeo dos “catedráticos”, tive o meu momento de dúvida, só que depois extraí as minhas conclusões. Os pombos são um todo: têm de ter boas asas, boa ossatura, equilíbrio, boa plumagem, etc. (Aplicados a bons voadores, os princípios do Standard mantêm-se válidos.) Mesmo depois de tudo o que é visível e quantificável ainda ficamos com os problemas da saúde, do sentido de orientação e da inteligência do animal. Duvido que tais predicados possam ser medidos ou aferidos pelos olhos apesar de tudo o que já li ou ouvi. Mais, há experiências científicas em que pombos correios com os nervos óticos seccionados e, portanto, completamente cegos, conseguiram voltar para o pombal.

Conclusão: Gosto de ver um olho saudável, bem pigmentado, mas não perco a cabeça por isso, nem o olho é o fator determinante para a seleção de um reprodutor ou voador.

Como comprar pombos?

Para construir uma colónia vencedora o columbófilo tem de primeiro procurar adquirir pombos de qualidade, com boas aptidões desportivas, de uma boa linha e que lhe agradem. Como eu costumo dizer de brincadeira: os pombos correios são como as mulheres, cada homem gosta do seu tipo, portanto quem gostar de loiras deve procurar loiras quem gostar de morenas, morenas.  Depois de os encontrar e aí a sorte também tem o seu papel, tem que se ter um extremo rigor na seleção e esse rigor tem de ser tanto maior quanto maiores forem as aspirações.

O pedigree é muitas vezes apenas uma forma de dar valor comercial a um pombo inferior que o columbófilo não incluiria na sua colónia.

A qualidade é algo que só se pode avaliar com observação direta do pombo e isso é algo que se ensina e que se aprende. Não aconselho ninguém a comprar pombos na internet. Raramente o faço e quando tal acontece, normalmente estou a comprar pombos que já tinha visto e manuseado. Quando não posso avaliar os pombos pessoalmente interessa-me mais o palmarés que o pedigree. Foi o que fiz por exemplo na venda do falecido Sebastião Martins: só foram adquiridos 3 pombos, nestes os 2 melhores palmarés da venda. Para um pombo obter um palmarés relevante tem de ser melhor que os outros.

É sempre aconselhável manusear e conhecer os pombos antes de os adquirir. Ao preparar uma compra os resultados desportivos interessam-nos tanto os do pombo a adquirir como também os dos pais e da linha de onde vem. Os resultados desportivos relevantes na linha de um pombo são importantes para ter segurança em relação à sua consistência reprodutiva.

Nunca nos preocupámos em manter linhas “puras”. O melhor pombo de fundo que tivemos em mais de 50 anos de columbofilia, o nosso “Comando”, era um bom exemplo: a mãe era um cruzamento do “Puskas Pedrado Guias Brancas” (um filho do “Puskas” com a “Branca” Fabry) ele próprio vencedor de uma anilha de ouro, com uma Vereecke importada filha do “Président” e o pai um pombo filho do 1º Nacional de Dax George Bolle. O “Comando” foi um pombo de fundo inesquecível, talvez o melhor pombo de fundo que alguma vez tivemos e venceu dois primeiros prémios distritais de fundo feito que mais nenhum pombo no Algarve conseguiu depois dele.

A ideia é reproduzir o máximo de pombos de grande qualidade, independentemente do “rótulo”, seja em consanguinidade ou em cruzamento. O pedigree do pombo não vence concursos. O mote é voar, reproduzir, voar, reproduzir, tentando fazer subir a qualidade a cada geração. Um fator chave na reprodução é a necessidade de criar um espectro genético rico, que suporte o nascimento de “Campeões”. Contudo, mesmo tendo a base parental ideal, só por tentativa e erro conseguimos reproduzir os melhores pombos possíveis.

Normalmente quando quero comprar pombos na Bélgica já vou com o trabalho de casa feito. Ou seja, já li tudo o que havia disponível sobre a colónia e o columbófilo que vou visitar. Se os pombos em mãos correspondem às exigências e me agradam então fala-se de negócios. No entanto, é raro que compre algum pombo numa primeira visita. Só se for possível mesmo a aquisição “daquele pombo” particular que me agrada muito. Começo a comprar quando acho que conheço o suficiente da colónia e do columbófilo para acertar em cheio. Quando tenho sucesso, continuo a comprar nos mesmos pombais e nas mesmas linhas e procuro ter uma boa relação de amizade e cooperação com as pessoas. Por norma não compro pombos sem os ver e não encomendo borrachos. Pergunto em que data está a criação disponível e desloco-me de propósito para ver e escolher. Se não vir pombos que preencham todos os requisitos logo se vê para o ano. Rigor e exigência são fundamentais.

Normalmente vou à Bélgica 7 ou 8 vezes por ano, sempre mais para ver, aprender e divertir-me do que para comprar. Manusear bons pombos e craques é um dos meus prazeres enquanto columbófilo e é minha convicção que quanto mais o faço, mais aprendo e mais desenvolvo a minha capacidade de avaliar corretamente o que tenho em mãos.


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